Total de visualizações de página

sábado, 20 de agosto de 2016

RUI BARBOSA:ORAÇÃO AOS MOÇOS ESTUDANTES E DOUTORES!

 O meu desabafo nas palavras de Rui Barbosa, uma respostas para os que me elogiam com sinceridade, elogiam por gozação e, criticam para maculação da imagem digna , que por muito esforço fora construída na fonte da luta, humildade e mais do que tudo, fundada na fé inexorável no Deus todo poderoso. Assim o texto:
(…)
Tomai exemplo, estudantes e doutores, tomai exemplo das estrelas da manhã, e gozareis das mesmas vantagens: não só a de levantardes mais cedo a Deus a oração do trabalho, mas a de antecedentes aos demais, logrando mais para vós mesmos, e estimulando os outros a que vos rivalizem no ganho bendito... Há estudar, e estudar. Há trabalhar, e trabalhar. Desde que o mundo é mundo , se vem dizendo que o homem nasce para o trabalho: homo nascitur ad laboren. Mas trabalhar é como o semear, onde tudo vai muito das sazões, dos dias e horas. O cérebro, cansado e seco do laborar diurno, não acolhe bem a semente: não recebe fresco e de bom grado, como a terra orvalhada. Nem a colheita acode tão suave às mãos do lavrador, quando o torrão já lhe não está sorrindo entre o sereno da noite e os alvores do dia....Assim, todos sabem que para trabalhar nascemos. Mas muitos somos os que ignoramos certas condições, talvez as mais elementares, do trabalho, ou, pelo menos, mui poucos os que as praticamos. Quantos serão os que acreditam que melhores trabalhadores sejam os melhores madrugadores? Que os mais estudiosos não sejam os que oferecem ao estudo os sobejos do dia, mas os que o honram com as primícias da manhã....Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo ás manhãs e madrugadas. Muitas lendas se têm inventado, por aí, sobre os excessos da minha vida laboriosa. Deram, nos meus progressos intelectuais, larga parte ao uso em abuso do café e ao estímulo habitual dos pés mergulhados n` água fria . Contos de imaginadores. Refratário sou ao café....Ao que devo, sim, o mais dos frutos do meu trabalho, a relativa exabundância da sua fertilidade , a parte produtiva e durável da sua safra, é ás minhas madrugadas. Menino ainda, assim que entrei ao colégio alvidrei, sem cessar, toda a vida. Eduquei nele o meu cérebro , a ponto de espertar exatamente á hora, que comigo mesmo assentara, ao dormir. Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha banca de estudo a uma ou às duas da antemanhã. Muitas vezes me mandava meu pai volver ao leito; e eu fazia apenas que obedecia, tornando, logo após, aquelas amadas lucubrações, as de que me lembro com saudade mais deleitosa e estranhável... Tenho, ainda hoje, convicção de que nessa observância persistente está o segredo feliz, não só das minhas primeiras vitórias no trabalho, mas de quantas vantagens alcancei jamais levar aos meus concorrentes, em todo o andar dos anos, até á velhice. Muito há que já não subtraio tanto às horas da cama, para acrescentar às do estudo. Mas o sistema ainda perdura, bem que largamente cerceado nas antigas imoderações .Até agora nunca o sol deu comigo deitado e, ainda hoje, um dos meus raros e modestos desvanecimento é o de ser grande madrugador, madrugador impenitente...Mas senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas ideias próprias, que geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação , por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas...Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real. O saber da aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai aprendendo, como do que elabora. Haveis de conhecer, como eu conheço, países, onde quanto menos ciência se apurar, mais sábios florescem.... Há, sim, dessas regiões por esse mundo além. Um homem (nessas terras de promissão) que nunca se mostrou lido ou sabido em coisa nenhuma, tido e havido é por corrente e moente no que quer que seja; porque assim o aclamam as trombetas da política, do elogio mútuo, ou dos corrilhos pessoais, e o povo subscreve a néscia atoarda. Financeiro, administrador, estadista, chefe de Estado, ou qualquer outro lugar de ingente situação e assustadoras responsabilidades, é a pedir de boca, o que se diz mão de pronto desempenho, fórmula viva a quaisquer dificuldades, chave de todos os enigmas...Tenham por averiguado que, onde quer que o colocarem, dará conta o sujeito das mais árduas empresas e solução aos mais emaranhados problemas.

Rui Barbosa , no livro Oração aos Moços, páginas 37 a 39, editora Russel, Série Ouro, 3ª edição, 2007.
(...)

O meu canto por palavras, a resposta para não dizer que fiquei no silêncio da culpa, apesar de que, em muitas situações o silêncio também é uma extraordinária resposta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fale a verdade.